domingo, 10 de julho de 2011

Fantástico como as circunstâncias se encaixam.
não quero um movimento literário
quero um estilo
que me faça acreditar,
enxergar razão
sem a precisão de um sentido propriamente dito
pois, por essência,
oscilar entre o viver e o sobreviver
agoniza a existência.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Escrever, pra febre não arder.
vontade tola
de não crescer.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Nunca esteve tão claro.

O livro empoeirado na estante já me cantava uma delicada filosofia para um faz de conta de felicidade, uma ilusão barata para calar-me a inquietação de insistir, resistir, pedir ou de te fazer rir.

Fiquei a pensar no quanto esquentei a cabeça nos últimos tempos em ler o que a escrita não revela e limitar ao sonho o doce final.

O amargo abraçaria o teatro e faria da minha vida pacata uma alma lavada no rio das tendências.

Eu vivo o risco e quero estar tranqüilo. Será possível não cair na agonia da sobrevivência e ainda viver um louco amor?

E quando me mato, meu suicídio interno, já vou logo dizendo meu caro amigo, é o que trás a criatividade das minhas atuações. Pra viver apenas, não faz sentido. E a dúvida é um mimo.

O meu raciocínio é simples. Basta se perguntar o que é mais importante. O médico vê a família no natal e deixou a namorada. Marvin sumiu para se assumir. Janis Joplin viu o trem 219 levar o seu amor e se afogou em whysky. Hoje os bichinhos comem todas essas cabeças.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Identificação Singular

Me chamam de louca por muito quando batem palmas por tão pouco. Muito ou pouco? Valem de um mundo ou de outro? Ao fundo, minha rua nas noites que caminho, seja numa boa companhia, seja com a lua se despindo, tenho mil devaneios e clarões preparando a noite que está só começando enquanto que, para outros, o dia está acabando. Pode parecer charminho, um leve brincar de palavras, mas a alegria bate mesmo quando vem aquele silêncio e a música pintando em pensamento como se estivesse rolando pra valer no espaço-tempo, coisa de maluco, mas acredite, eu escuto, da harmonia ao arrepio, e dá vontade de ficar te olhando, senão dançando, na pupila dos teus olhos quando não há o abraço forte. Já não dá vontade de rir, nem de falar, nem de explicar, é apenas um desejo delicado de estar preso à uma identificação singular.

Comecei pela parte mais bonita. No entanto, foi o movimento posterior à um extremo oposto. Eu gostaria de especificar, falar do Marvin, falar da Raimunda... Mas não bastaria, eu nem conseguiria. Gostaria de estar com mais tempo para me dar ao luxo. Mas eu não poderia dormir sem registrar esses segundos.

A confusão é tamanha que Marvin desconfia. A cena diz respeito à um duelo de gigantes onde ambos possuem as mesmas armas e vivem no desespero da magia e seu feiticeiro. Um romance guardado na última prateleira do lado esquerdo da estante pronto pra ser aberto pelo tempo ou virar carvão feito diamante. De dia, a mente e o amante se conciliam no carinho distante de quem nunca está por perto. Não vivo exatamente o tal drama,muito pelo contrário. Entretanto, do céu há a queda e o tempo tem me oferecido conseqüências instantâneas. Se isso é bom ou ruim, ainda não sei. Mas sei que posso jogar a favor da minha sina, ainda que a competição seja carta descartada. Conquista e jogo possuem significados diferentes e são confundidos na pratica constantemente.

Mas ainda assim não quero falar de amor. Dias, semanas, meses. Já não posso ver o estrago do tempo, apenas sentir o amadurecimento das idéias e saúde dos meus músculos que me conduz à uma postura mais rígida ao que determinei por inspiração para cada expiração. Se minha timidez falasse mais alto, talvez a minha falta de jeito teria se extinguido e não estariamos nesse estado comprimidos. Talvez eu perdesse a piada e não estaria com meus amigos no sol a sol. Talvez eu não perceberia o quanto o silêncio diz por si só.

Enfim, tudo caminha tão bem que não poderia estar melhor. - Esse é o clima. Embora haja a correria, a loucura me abraça de maneira confortável. Quando estive para descobrir se vivo o prazer na minha rotina, ou se vivo a rotina no meu prazer, me deparei com o pior sentimento do mundo: avistei, de perto, ao longe um querido... triste e sozinho. Assim, ao mesmo tempo que descobria o prazer de conciliar todas as minhas alegrias e confusões, todas as intrigas e inquietações formando, portanto, o meu maior alívio em pleno equilíbrio, me peguei em estado de suplício. Eu seria capaz de trocar a minha tranquilidade pela alegria do meu querido, viver aflita na toca do bandido, pois assim me doeria menos do que passar as horas no silêncio impotente. Mesmo que eu cante para meus males espantar, nada me vale se eu não puder fazer um amigo comigo cantar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Manchete: GB's entram em greve a favor do estímulo

Estávamos debruçados sob o farol. Dava para ver a cidade toda. Sua face me deslumbrava com um ar de maturidade, diferente dos anos que passávamos desafiando a resistência do corpo e do romance correndo kilometros, debaixo de sol, de chuva, ou de lua com as bicicletas sob os vales.
O que posso dizer é que, nesse momento, meu maior desejo era colocar essa cena num porta-retrato pra lembrar por toda a vida.
Maior que isso. O meu desejo era desejar inúmeros porta-retratos por toda a vida. Mas a memória frágil como uma dama de copas me diz que os GB se recusam a guardar informação no anseio de perder estímulos para encarar momentos como este, diante do farol, como se fosse o primeiro. Como se fosse uma grande novidade no extremo de sua perversidade. A natureza de nós dois nos reconcilia, nos aproxima, nos instiga a dever respeito.
Sabemos o que queremos. Queremos o que desconhecemos. E nossa virtude é desvendar o agora enquanto nossas escolhas não nos colocam em prova de fogo, pois quando as mesmas vidas percebem que são predestinadas ao mesmo caminho, ou se completam, ou acabam por se separar numa atitude de respeito sabendo que juntos não tem jogo de azar.

sábado, 20 de junho de 2009

Velha Infância III - As Flores de Raimunda

Noite passada tive sérios problemas com a malícia da atmosfera dos navegantes. A linda melodia de violino que realça a cor dos olhos da mulher enquanto encanta o barman na festa não se associa ao canto da torcida no Morumbi, ao samba, mas ambas as festanças proporcionam o mesmo gemido entre os corpos, a mesma freqüência entre os sons, o mesmo segundo que levanta os pêlos do braço gelado... Me perguntaram se eu estava falando de amor, ressonância, ou coincidências. Respondi:

- Decifrem.

Mas vamos ao que interessa: noite passada. Antes de seguir rumo como combinado com a Anne, esbarrei com Raimunda numa floricultura:

- Comprando flores? - Perguntei.
- Sim.
- Eu sempre soube que você era o 'macho' da relação, Raimundinha.
- Não é difícil perceber... Mas essas flores não são pro Rodrigo, são para mim.

E enquanto ela se perdeu pelo ambiente à procura das flores perfeitas, a balconista se dirigiu até mim:

- Ela vem à loja todos os dias. Mesmo que não seja para comprar, ela vem e passa horas entre as flores até encontrar uma especial.

Era curioso. Eu desconhecia essa paixão por flores da Raimunda, acho que todos se espantariam se soubessem.

- É, estou em dúvida no que devo levar... Flores do mal, flores da morte, flores da mente? Já sei, Íris. Por favor, moça, vou levar essas Íris. Flores da indecisão, eis o meu dia.

Então pude compreender o enigma de Raimunda. Talvez ela nem percebesse, mas procura nas flores os temas de sua vida, as respostas, as certezas, o escudo invisível. Enquanto que as flores de plástico não morrem, as flores de Raimunda à constroem. Enquanto meu refúgio se concentra num estúdio, a calma de porra-louca durona e marrenta se revela numa floricultura.

Em seguida tomamos nossos rumos e fui de encontro à Anne, levei uma margarida. Contei a ela a semana tensa que tive no escritório. Sobretudo, falei do telefonema, das horas no telefone com quem não devia.
E o dever era o termo que eu conhecia muito bem. O que se deve ou não é fato que deixo de lado quando pinta sem força, sem raciocínio, sem pretensão. E se é dever do que estamos falando, que todos vejam. Se não dever, não deva. Não tenho dívidas com ninguém, me divido, mas nunca me intimido. Eu falo baixinho. E foi assim que falamos no telefone, baixinho, meigo, ainda que o tom galanteador não me escapasse dos sensores que me arrepiavam os pêlos do braço. Sedutor. Nesse exato momento da conversa meu namorado entrou no Lanterna - o bar - e sentou-se ao meu lado, sorrindo, me beijou e perguntou qual era o número do meu telefone novo (sendo que já fazia dois meses que o número era novo) e logo foi encontrar o Marvin e o Otto que estavam perdidos na rua de trás.

Ouvindo Beetlebum, do Blur, em casa, diante dessa tela de computador fiquei pensando: como um convite ao cinema de um comprometido dirigido à um amigo pode causar tanto euforismo enquanto que uma ligação tão íntima com um "indevido" pode ser tão natural, lançando o perfume de um clima que se esconde atrás de sua própria consciência de fato indevido? Este clima não se deve, mas deve à atração das flores invisíveis que, por debaixo dos panos, revelam a maior das atrações.

A traição de Raimunda não aparece na omissão de suas horas acorrentadas às flores, mas sim, se revela na sua incapacidade de declarar à quem deveria perceber, por si só, por maturidade, por gosto, por jogo de sedução, o dever e o papel de seduzi-la tal como as flores à seduz.

Na minha história, a mulher que encanta o barman é a balconista da floricultura que vende flores pra Raimunda que namora o violinista que nesse exato momento está no Morumbi gritando por um gol.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Porta-risos.

“Amiga estrada, sinto-te viva. Eu posso rasgar o asfalto quente com os fones de ouvido tocando Supersonic. Levo nas malas um livro, o céu azulzinho, os desenhos nas nuvens ou as nuvens nos desenhos; não importa. A bagagem é uma memória inexistente. Mas basta ouvir a trilha-sonora pra re-sentir um arco-íris de suspiros. Sete cores. Sete notas. Sete dias. Perdi a conta dos suspiros... Agora sinto a estrada, tão viva, tão pulsante quanto meu coração na ladeira. Eu vi a cidade lá de cima. De braços abertos, fica aí a melhor de todas as férias.”



“Se eu tivesse que eternizar meus delírios, depois da música, inventaria um "Porta-risos".