segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Identificação Singular

Me chamam de louca por muito quando batem palmas por tão pouco. Muito ou pouco? Valem de um mundo ou de outro? Ao fundo, minha rua nas noites que caminho, seja numa boa companhia, seja com a lua se despindo, tenho mil devaneios e clarões preparando a noite que está só começando enquanto que, para outros, o dia está acabando. Pode parecer charminho, um leve brincar de palavras, mas a alegria bate mesmo quando vem aquele silêncio e a música pintando em pensamento como se estivesse rolando pra valer no espaço-tempo, coisa de maluco, mas acredite, eu escuto, da harmonia ao arrepio, e dá vontade de ficar te olhando, senão dançando, na pupila dos teus olhos quando não há o abraço forte. Já não dá vontade de rir, nem de falar, nem de explicar, é apenas um desejo delicado de estar preso à uma identificação singular.

Comecei pela parte mais bonita. No entanto, foi o movimento posterior à um extremo oposto. Eu gostaria de especificar, falar do Marvin, falar da Raimunda... Mas não bastaria, eu nem conseguiria. Gostaria de estar com mais tempo para me dar ao luxo. Mas eu não poderia dormir sem registrar esses segundos.

A confusão é tamanha que Marvin desconfia. A cena diz respeito à um duelo de gigantes onde ambos possuem as mesmas armas e vivem no desespero da magia e seu feiticeiro. Um romance guardado na última prateleira do lado esquerdo da estante pronto pra ser aberto pelo tempo ou virar carvão feito diamante. De dia, a mente e o amante se conciliam no carinho distante de quem nunca está por perto. Não vivo exatamente o tal drama,muito pelo contrário. Entretanto, do céu há a queda e o tempo tem me oferecido conseqüências instantâneas. Se isso é bom ou ruim, ainda não sei. Mas sei que posso jogar a favor da minha sina, ainda que a competição seja carta descartada. Conquista e jogo possuem significados diferentes e são confundidos na pratica constantemente.

Mas ainda assim não quero falar de amor. Dias, semanas, meses. Já não posso ver o estrago do tempo, apenas sentir o amadurecimento das idéias e saúde dos meus músculos que me conduz à uma postura mais rígida ao que determinei por inspiração para cada expiração. Se minha timidez falasse mais alto, talvez a minha falta de jeito teria se extinguido e não estariamos nesse estado comprimidos. Talvez eu perdesse a piada e não estaria com meus amigos no sol a sol. Talvez eu não perceberia o quanto o silêncio diz por si só.

Enfim, tudo caminha tão bem que não poderia estar melhor. - Esse é o clima. Embora haja a correria, a loucura me abraça de maneira confortável. Quando estive para descobrir se vivo o prazer na minha rotina, ou se vivo a rotina no meu prazer, me deparei com o pior sentimento do mundo: avistei, de perto, ao longe um querido... triste e sozinho. Assim, ao mesmo tempo que descobria o prazer de conciliar todas as minhas alegrias e confusões, todas as intrigas e inquietações formando, portanto, o meu maior alívio em pleno equilíbrio, me peguei em estado de suplício. Eu seria capaz de trocar a minha tranquilidade pela alegria do meu querido, viver aflita na toca do bandido, pois assim me doeria menos do que passar as horas no silêncio impotente. Mesmo que eu cante para meus males espantar, nada me vale se eu não puder fazer um amigo comigo cantar.

3 comentários:

Eric Brandão disse...

É o que eu tb acho que vale a pena: fazer um amigo cantar - entre outros estados de espírito nos quais temos concordância.

Vc é maravilhosa. Humana e artísticamente.

Bjs

Eric Brandão disse...

Digo, artisticamente... sem acento...rs

Unknown disse...

muito bom texto buballo .
o ultimo paragrafo, perfeito .
parabens :)